Depois de umas voltas pela discoteca, fomos ao
bar pedimos duas pinacoladas com álcool. O Carlos olhou para mim e bebeu um
gole do seu copo.
"Oh por favor! Se estamos na discoteca, não vamos
estar a beber só um copo" Bebi o meu num único gole. Pedi uma caipirosca
com coca-cola.
-
Anda comigo!
Não era uma pergunta, nem um pedido. Era uma
ordem! Levou-me pelo braço, agarrei no copo e saímos da discoteca.
“Oh, não! Mundo real outra vez! NÃO!!!”
Agarrou no meu copo e pô-lo em cima da mesa que
estava numa esplanada lindíssima, atras da discoteca, com vista para o mar.
Pegou em ambas as minhas mãos e obrigou-me a
fita-lo.
-
Ouve – a sua expressão era séria – eu sei que é difícil
perder os pais e não poder estar presente num momento tao difícil como este…
mas isso não implica que te enfrasques de álcool, percebes?! Sara, eu gosto
muito de ti e custa-me ver-te sofrer e não poder fazer nada! Mas estou cá para
te impedir de fazeres asneiras, tais como, embebedares-te só porque te
aconteceu uma infelicidade, a morte dos teus pais. Até posso estar a ser um
pouco indelicado, mas sei que me estás a ouvir e concordar comigo, apesar de
estares calada.
Quando ele acabou, eu pensei: “Bolas, assim é que
devem ser todas as pessoas! Dizer o que sentimos é sempre a melhor solução!”
“Sei mesmo escolher os meus amigos os meus amigos!”
Para mim o Carlos não é apenas um simples namorado, é também um grande amigo. Daqueles
que não precisamos de dizer nada que eles sabem o que estamos a sentir…
-
… nunca passei por tal situação, mas imagino ser…
Não consegui evitar, olhar para aqueles olhos
lindos e ver aqueles lábios mexer e eu a limitar-me a ouvir, não!
Beijei-o e agarrei-me o mais possível a ele.
-
Amo-te! – sussurrei.
-
Também te amo, não duvides disso! – respondeu.
-
Não duvido. – conclui.
O silêncio permaneceu entre nós. Apenas se ouvia
a respiração e o coração a bater de cada um de nós. O silêncio é sempre bom em
momentos difíceis como este, é pena ter demorado pouco tempo…
-
Ah, estão aqui! Gonçalo? Gonçalo anda cá! –
disse a Patrícia.
-
Oh então! Aquela loira era tão gira… - lamentou
o Gonçalo.
-
Acredito, mas anda lá…
-
Ok… - disse ele com ar triste – Olha os
pombinhos! Então, estão bons?!
-
Se tivessem aparecido, estávamos melhores… -
sussurrei ao ouvido de Carlos, ainda abraçada a ele.
-
Não sejas mazinha! – respondeu ao meu sussurro.
-
Vais dizer que é mentira? – perguntei, o Carlos
soltou-se, para que ficássemos os dois de frente para eles.
Não me respondeu, apenas sorriu.
-
Hello! Nós ainda estamos aqui… deixem-se de
segredinhos e sorrisinhos! – disse o Gonçalo.
-
Menino Gonçalo! O ciúme é uma coisa muito feia,
sabes? – perguntei.
-
Eu sei! E não estou com ciúmes! Namorem lá à
vontade.
-
Vá, vamos lá a ter calma! – disse a Patrícia, a
apaziguadora do grupo.
-
Exato! – completou o Carlos.
-
Eu vou buscar uma bebida! Alguém quer alguma
coisa? – perguntou a Pipa.
-
Então eu vou contigo! Preciso de ir à casa de
banho… - disse o Carlos.
-
Isso costuma ser a frase mais comum das
raparigas… não dos rapazes! – disse ela, gozando com o Carlos.
-
Ah, ah! Mas eu preciso mesmo de ir…
-
Ok, ok! Vamos lá! – dirigindo-se à porta – Até já!
– para nós.
-
Até já!
Sentei-me na mesa, onde estava a minha caipirosca
com coca-cola e bebi um gole. O Gonçalo segui-me e sentou-se na cadeira em
frente a mim.
-
Então estás melhor?! – perguntei.
-
Hã?! Eu?!
-
Sim tu!
-
Eu?!
-
Sim, és surdo ou quê?
-
Às vezes… estás a falar da Maria?
-
Sim.
-
Ah, sim. Acho que já passou! Então e tu?
-
Ah, eu … mais ou menos – fiquei pensativa.
Pensar nos meus pais deixava-me frágil, triste.
Imaginava o carro a bater no deles, os corpos dos meus pais a chocarem no
airbag, a voltarem para trás. Depois o meu pai e a minha mãe a sangrar. Fechei os
olhos, não conseguia aguentar aquele sofrimento, imaginar todas aquelas hipóteses
de acidente mortal dos meus pais…
“Não aguento isto!”
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