-
Carlos… murmurei e abri os olhos.
Para meu espanto não era o Carlos, era o Gonçalo,
o meu melhor amigo.
-
Eu não sou o Carlos!
“Ai, ai! Então porque me beijaste?!” – pensei e a
seguir tive de o perguntar.
-
Então porque me beijaste?
Afastei-me quando ele se aproximou, querendo
pegar-me na mão.
-
Eu não mordo! – barafustou.
-
Pois, mas beijas!
-
Desculpa…
-
Porque o fizeste?
-
Desculpa, está bem!
-
Porque o fizeste?! E é bom que me dês uma boa explicação …
A porta da discoteca abriu-se e o Carlo e a
Patricia apareceram. Eu e o Gonçalo rodamos a cabeça em direcção da porta,
acompanhando o seu movimento, em simultâneo.
-
Então trouxeram alguma coisa para mim?! –
perguntou o Gonçalo, levantou-se em direcção à Patricia e ao Carlos.
-
Não pediste nada! E se pedisses eu também não te
trazia… - disse ela, murmurando a ultima frase.
-
Oh, então!
-
Ah pois é, menino Gonçalo! É sexta-feira mas não
é para te embebedares! Sim?!
-
Está bem! – respondeu.
Voltamos para a discoteca e depois de dançarmos
uma música, eu disse para o Carlos.
-
Vamos embora…
-
Ok…
Entramos dentro do carro e o Carlos seguiu em direcção
à casa da Patricia e depois à do Gonçalo. A viagem foi muito silenciosa, nem
sequer o som da rádio se ouvia. Para quebrar o silêncio, o Carlos perguntou:
-
O que se passa?
-
Hã?! – estava distraída.
Perdida em pensamentos. A morte dos meus pais, o
beijo do meu melhor amigo. Isto tudo em tão pouco tempo.
-
Estás bem? Sei que é uma pergunta estúpida, mas
estou preocupado contigo.
-
Não é nada estúpido, mas estou bem. Obrigada.
-
Vou fingir que acredito. Se não queres dizer
tudo bem, mas sabes que podes contar-me, certo?
-
Sim, eu sei. E obrigada por tudo!
-
Não tens de quê. Estarei sempre aqui para ti.
Levou a minha mão esquerda aos seus lábios e
beijou-a. Conseguiu arrancar-me um sorriso. Aquele toque tao quente e
agradável, fez-me lembrar a noite anterior… ele por cima de mim, o seu calor
humano, o brilho dos seus olhos e o reflexo do seu tronco nu com a luz do
candeeiro… como tinha adormecido agarrada a ele e como tinha sido acordada hoje
de manhã.
-
Amo-te! – disse ele.
As suas palavras ficaram a pairar no ar, à espera
de uma resposta.
-
Também te amo muito! – respondi.
Voltei a olhar para a estrada e reparei que ele não
tinha virado na 1ª à direita mas sim, na 3ª à direita, depois da retunda, ou
seja, íamos na direcção inversa ao caminho das nossas casas. Olhei para ele,
limitou-se a sorrir e conduzir. Não perguntei onde íamos, deixei-me ficar com a
dúvida e descobrir sozinha.
Paramos e estacionamos junto a uma praia.
“Uau, que romântico!”
Depois de nos descalçarmos e andarmos um pouco
pela areia seca, o Carlos disse:
-
És tudo para mim, sabias?! – deixou cair os
sapatos e fez os mesmos aos meus – Sei que alto te perturba, mas não vou pedir
que me contes. Quero apenas que descontraias… vamos sentar-nos um pouco e
descontrair ao som do mar, sim?!
-
Está bem.